Pular para o conteúdo principal

Coluna DIÁRIO DE DELEGACIA - 13/05/2019.


A GUIA DE EXAME NO MORTO E O CARIMBO DO DELEGADO.

Por Antonio Moraes*

Em um dos meus plantões noturnos na Delegacia Especial de Atendimento ao Turista (DETUR), localizada na orla de Atalaia, em Aracaju, juntamente com meus demais colegas de trabalho, recebemos um pai e um filho que buscavam por um documento que os autorizasse a retirar o corpo de um familiar que estava no Instituto Médico Legal (IML). Pai e filho somente queriam providenciar um enterro para seu ente querido. Essa situação é, infelizmente, recorrente. Eu e meus colegas nada pudemos fazer. Dissemos que pai e filho deveriam ir até a Central de Flagrantes, situado no outro lado da cidade, para que um delegado pudesse assinar o referido documento.

O documento procurado é a guia de exame no morto. Esse documento é expedido pela Polícia Civil e dirigido ao Instituto Médico Legal (IML). Nele a autoridade policial solicita que seja realizada a devida perícia. Solicitada e realizada a perícia, o corpo pode ser liberado. Através dessa guia o IML passa a saber qual o registro policial foi feito acerca daquela morte. Isso, após a realização da perícia, autoriza-o a liberar o corpo para a família do falecido. Esse documento acompanharia o Boletim de Ocorrência no qual seria informado oficialmente à Polícia Civil a morte da pessoa cujo corpo deveria passar por uma perícia a fim de se determinar a causa de sua morte.

Pois bem. As feituras do BO e dessa guia de exame no morto não demandariam nenhuma formalidade extraordinária. Como dito acima, é situação corriqueira nas delegacias de polícia civil do Estado. Ocorre que os servidores do Instituto Médico Legal (IML) não aceitam guias de exame no morto assinada por agente ou escrivão de polícia civil. Só aceitam guias assinadas e carimbadas por delegado de polícia. O mais esdrúxulo é que a maior exigência é pelo carimbo do delegado. 

Essa prática tem acentuado ainda mais o sofrimento das pessoas que, já abaladas pela morte de seus entes queridos, têm que se deslocar para outra delegacia a fim de encontrar um delegado de polícia. Isso é pior ainda quando a busca por esse documento se dá durante os plantões noturnos, de finais de semanas e de feriados.

BO e guia podem ser feitas em qualquer delegacia e por qualquer policial civil, independente do cargo, podendo depois ser encaminhadas cópias para a delegacia competente que deverá investigar o caso. Trata-se, portanto de mera diligência administrativa, sem qualquer conteúdo decisório ou opinativo.

A população não reclama por já estar em situação de vulnerabilidade no momento em que estão tomando as providências para o enterro de seus entes.

Urge que a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública, através de seus gestores, dialoguem com os gestores da Coordenadoria Geral de Perícias (COGERP) e do Instituto Médico Legal (IML) convencendo-os a orientar seus servidores subordinados a receber, não apenas as guias de exames no morto, como também, todo e qualquer documento assinado por agentes e escrivães, os quais, como os delegados, são autoridades policiais civis e agem no estrito exercício da atividade policial civil.

Essa burocracia desnecessária precisa deixar de existir em homenagem ao povo sergipano destinatário que deve ser de um trabalho policial eficiente.

* servidor policial civil ocupante do cargo de escrivão de polícia civil de 1ª classe, lotado na DETUR e ex-presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Sergipe.

Texto publicado no Blog de Claudio Nunes, site Infonet, em 13 de maio de 2019.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DELEGADO, VOSSA EXCELÊNCIA OU VOSSA SENHORIA?

No dia de ontem, 4/3, fomos surpreendidos por uma notícia publicada no Blog do A Fonte, pelo jornalista Josimário Nunes, informando um fato, ocorrido em 26/02/2018, mais para abuso/excesso do que para excêntrico, praticado por um servidor policial civil ocupante do cargo de delegado da Polícia Civil da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte. Segundo a publicação, "Uma advogada teve seu pedido de acesso a um inquérito negado porque o delegado de polícia exigiu ser tratado por "Excelência", em substituição ao pronome de tratamento 'Ilustríssimo' utilizado na petição". O abuso, com aparente intenção denegatória, consubstanciou-se na expedição de um despacho inusitado com o seguinte teor: “Antes de apreciar o pedido, intime-se os causídicos para adequarem a petição aos termos do artigo 3º da Lei nº 12.830/2013, uma vez que a petição não preenche os requisitos formais de endereçamento à...

REESTRUTURAÇÃO? NÃO, BICO-ELEIÇÃO.

Oficiais Investigadores da Polícia Civil de Sergipe foram presos por estarem fazendo bico de segurança eleitoral.      Segundo populares, na cidade de Umbaúba/SE, 04 policiais civis foram presos pelo Batalhão de Choque por estarem armados fazendo segurança para uma determinada campanha eleitoral. Sem a reestruturação PROMETIDA e NÃO CUMPRIDA pelo desgovernador Fábio Mitidieri, colegas oficiais investigadores estão se arriscando e se humilhando em bicos de segurança privada.        A ocorrência deveria ter sido levada, para registro e tomada de providências, para delegacia plantonista da cidade de Estância/SE, todavia, para abafarem o caso, todos foram levados para Aracaju.      Aracaju, 02/10/2024. ANTONIO MORAES Oficial Investigador Ex-presidente do SINPOL Sergipe

PERMUTA DE ESCALA DE SERVIÇO OU PLANTÃO, SEM ÔNUS PARA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CENTRAL DE PERMUTAS.

CENTRAL DE  Trata-se situação corriqueira entre servidores policiais civis de Sergipe, seja agente, seja agente auxiliar, seja delegado, seja escrivão. Ocorre quando um colega precisa se ausentar por algum motivo pessoal, ajusta com outro colega que lhe substitua e depois compensa substituindo-o posteriormente. Isso sem nenhuma despesa para a Administração Pública, bem como sem prejuízo para o trabalho policial. O servidor policial civil ajusta com o colega e comunica a seu superior. Essa prática ocorre mais comumente nas unidades plantonistas. Essa modalidade de permuta não tem previsão legal, mas, quando acordada corretamente, conta com o bom senso da grande maioria de chefes imediatos porque não traz qualquer prejuízo à atividade policial. Além de não atrapalhar o trabalho e não causar qualquer despesa ao erário, essa possibilidade de permuta ajuda na formação de um bom meio ambiente de trabalho, tão necessário para o dia a dia nas unidades policiais civis. SUGESTÃO: passou da h...