Pular para o conteúdo principal

Sobre o debate acerca da maioridade penal: vingança ou punição?


Há um forte sentimento de vingança tomando conta dos que defendem a diminuição da maioridade penal no Brasil. Já estamos vivendo um caos social. Olho por olho, dente por dente.

Sou servidor policial civil, ocupo o cargo de escrivão e trabalho na Delegacia Especializada de Proteção ao Menor e ao Adolescente em Aracaju. O que vejo todos os dias vai muito além de adolescentes infratores, ou de criminosos mirins. Vejo o retrato de uma sociedade falida moral, social e economicamente. Uma sociedade que não reconhece seus erros, pois vende seu voto por dinheiro ou por vantagem. Uma sociedade que não participa do seu próprio processo político social. Uma sociedade cuja maioria de seus integrantes coloca sempre o defeito de suas mazelas nos outros.

Não leio ou vejo a mesma disposição dispensada para a defesa (legítima) do aumento da maioridade penal, por exemplo, para a retirada dos presos das delegacias ou para combater a super lotação dos presídios.

Sou contra a diminuição da maioridade penal, não porque eu defenda bandido, mas porque acredito que o buraco é mais embaixo. Sou contra a redução da maioridade penal e sou contra a impunidade. Parece um antagonismo aos olhos ‘vingancistas’, mas não é. Há alternativas ao aumento da maioridade penal.

Sou a favor de que se altere o ECA, modificando os critérios para a internação do adolescente infrator e sua manutenção no cárcere. Quem comete delito não pode voltar para casa como se tivesse apenas cometido uma simples travessura.

Pela regra atual, por exemplo, o adolescente infrator quando pego em flagrante de tráfico de drogas é liberado no mesmo dia, bastando que um responsável maior vá buscá-lo na delegacia. Ele deveria ser internado (preso) para não retornar ao crime e ser submetido verdadeiramente a um programa cotidiano de recuperação. O tempo máximo de internação deveria passar de 3 para 5 ou 10 anos.

Ainda pela regra atual do ECA, o tratamento do menor infrator se diferencia se o delito praticado foi ou não cometido com emprego de violência. Poder-se-ia usar o mesmo critério utilizado para o adulto que comete delito, observando se este é de menor ou de maior potencial ofensivo. E não, como é feito hoje, se é ou não cometido com violência.

Essas medidas, acredito, diminuiriam a sensação de impunidade. Além, de não despertar tantos debates meramente demagógicos, midiáticos e eleitoreiros.

O que falta mesmo é comprometimento e efetiva participação social.

Mas ainda tenho esperança.

Antonio Moraes, policial civil (escrivão), ex-presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Sergipe, lotado na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA) em Aracaju, Sergipe.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DELEGADO, VOSSA EXCELÊNCIA OU VOSSA SENHORIA?

No dia de ontem, 4/3, fomos surpreendidos por uma notícia publicada no Blog do A Fonte, pelo jornalista Josimário Nunes, informando um fato, ocorrido em 26/02/2018, mais para abuso/excesso do que para excêntrico, praticado por um servidor policial civil ocupante do cargo de delegado da Polícia Civil da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte. Segundo a publicação, "Uma advogada teve seu pedido de acesso a um inquérito negado porque o delegado de polícia exigiu ser tratado por "Excelência", em substituição ao pronome de tratamento 'Ilustríssimo' utilizado na petição". O abuso, com aparente intenção denegatória, consubstanciou-se na expedição de um despacho inusitado com o seguinte teor: “Antes de apreciar o pedido, intime-se os causídicos para adequarem a petição aos termos do artigo 3º da Lei nº 12.830/2013, uma vez que a petição não preenche os requisitos formais de endereçamento à

REESTRUTURAÇÃO? NÃO, BICO-ELEIÇÃO.

Oficiais Investigadores da Polícia Civil de Sergipe foram presos por estarem fazendo bico de segurança eleitoral.      Segundo populares, na cidade de Umbaúba/SE, 04 policiais civis foram presos pelo Batalhão de Choque por estarem armados fazendo segurança para uma determinada campanha eleitoral. Sem a reestruturação PROMETIDA e NÃO CUMPRIDA pelo desgovernador Fábio Mitidieri, colegas oficiais investigadores estão se arriscando e se humilhando em bicos de segurança privada.        A ocorrência deveria ter sido levada, para registro e tomada de providências, para delegacia plantonista da cidade de Estância/SE, todavia, para abafarem o caso, todos foram levados para Aracaju.      Aracaju, 02/10/2024. ANTONIO MORAES Oficial Investigador Ex-presidente do SINPOL Sergipe

ESCREVENDO CERTO, POR LINHAS TORTAS. Comentário à nova determinação do delegado-geral da Polícia Civil de Sergipe.

Em 26 de dezembro do presente ano, a assessoria do delegado-geral da Polícia Civil de Sergipe, por determinação deste, enviou mensagem, via e-mail funcional, para todos os servidores policiais civis da corporação. ESCREVENDO CERTO … Na mensagem enviada, o delegado-geral, Thiago Leandro Barbosa de Oliveira, escreveu certo ao fixar, embora tardiamente, que: a) os agentes e escrivães, durante os plantões, devem realizar as atividades do serviço policial em sua integralidade, SEM distinção entre cartório, triagem e captura, todos deverão estar aptos para desenvolverem ambas as atividades; b) todos os servidores policiais civis (delegados, agentes e escrivães) devem cumprir todas as determinações e protocolos instituídos pela Superintendência da Polícia Civil; c) todos os servidores policiais civis (delegados, agentes e escrivães) devem estar aptos a utilizar o Procedimento Policial Eletrônico (PPE); d) todos os servidores policiais civis (delegados, agentes e escrivães) devem cumprir os pr